Os Pioneiros do Flamenco
para o desenvolvimento e divulgação da dança flamenca no País
Pergunte a qualquer professor de flamenco brasileiro de mais de trinta anos se ele já teve aulas com Ana Esmeralda, Pepe de Córdoba ou Laurita Castro. A possibilidade de ouvir um sim é de quase 100%. Nesta reportagem sobre os pioneiros da dança flamenca no Brasil, a Revista de Dança resgata o passado desses trêsbailaores – como preferem ser chamados – cujas histórias se confundem com a história do flamenco no Brasil.
A eterna Diva
Foto: divulgação
Com forte veia artística, Ana Esmeralda atuou também no cinema
Fotos: divulgação
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Em cena de Quem matou Anabela?
Aos 83 anos de idade, Ana Esmeralda não apenas dá o nome – e inspiração – à escola que fundou em 1986. Sua presença vai além das dezenas de fotos penduradas na parede que contam um passado artístico, marcado pela dança e também pelo cinema. Ativa, ainda dá aulas e participa de todas as apresentações de dança da escola. “O flamenco é a minha vida, quero ensinar a vida toda. Não me canso e jamais pensei em parar”, diz, em tom de comemoração.
Nascida em Sevilha, na Andaluzia, o berço do flamenco, Ana Esmeralda sempre sonhou em ser artista. Além do clássico espanhol, os primeiros passos no flamenco vieram de forma quase natural, com as tradicionais sevilhanas, dança das festas populares local. A forte veia artística também pôs Ana Esmeralda no mundo do cinema, tendo atuado em treze filmes ao longo de sua carreira.
E foi justamente o cinema que trouxe Ana Esmeralda para o Brasil. Em 1954, veio para cá como representante da Espanha durante o I Festival de Cinema de Porto Alegre. Apaixonou-se pelo País e também pelo cineasta Mario Audrá, com quem se casou. Ao lado de Audrá, protagonizou o filme Quem matou Anabela (1956), que tinha no elenco os atores Carlos Zara e Eva Wilma. Também esteve no famoso São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person (1936-1976), no qual contracenou com Walmor Chagas.
Como era comum na época, quando os filhos nasceram, Ana Esmeralda se afastou dos palcos, das telas e da dança. O resgate viria com um convite de Pietro Maria Bardi (1900-1999), um dos criadores do Museu de Arte de São Paulo (MASP), para que ela dirigisse um espetáculo da dança espanhola. “Como ninguém dançava flamenco no Brasil naquela época, minha mãe chamou bailarinas do clássico e ensinou a técnica. Montou esse primeiro espetáculo e não parou mais. No começo dava aulas em casa, depois montou esta escola”, conta Marco Audrá, filho da bailaora, administrador do Studio Ana Esmeralda.
Ana Esmeralda já perdeu a conta de quantos alunos passaram pela sua escola e não esconde a satisfação em ver que muitas das suas hoje “concorrentes” foram formadas por ela: “Temos hoje grandes baialoras de flamenco em São Paulo e muitas delas começaram comigo. O flamenco evoluiu muito nos últimos trinta anos, ficou mais moderno. Tenho a sorte de fazer parte dessa história”.